Nao tenho palavras para comentar o que acabei de ler.. fiquei à toa, sem saber o que pensar ou que dizer, estou triste, o Herberto Helder morreu, o mesmo Herberto de quem falava a toda hora e a quem falaram de mim como aquela italiana maluca que o adorava e que gostava de um dia o conhecer.. adeus Herberto, um dia vamos conhecer-nos e se calhar vou te encontrar enquanto estas a beber um copo de vinho com a Carmen.. É amargo o coração do poema. A mão esquerda em cima desencadeia uma estrela, em baixo a outra mão mexe num charco branco. Feridas que abrem, reabrem, cose-as a noite, recose-as com linha incandescente. Amargo. O sangue nunca pára de mão a mão salgada, entre os olhos, nos alvéolos da boca. O sangue que se move nas vozes magnificando o escuro atrás das coisas, os halos nas imagens de limalha, os espaços ásperos que escreves entre os meteoros. Cose-te: brilhas nas cicatrizes. Só essa mão que mexes ao alto e a outra mão que brancamente trabalha nas superfícies
"...são tantas as portas que se nos fecham, que acabamos por ter medo das que se abrem à nossa frente..."-L. de Sttau Monteiro "Felizmente há luar"