“… A viagem não acaba nunca. Só os
viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em
lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e
disse: ‘Não há mais que ver’, sabia que não era assim. O fim duma
viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver
outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver
de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía,
ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a
sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram
dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É
preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.”
José Saramago (1922-2010) , em Viagem a Portugal
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